Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos
de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.
» (António Alçada Baptista)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

01/08/2025

DIÁRIO DE BORDO: Elegeram-no? Então aguentem outros cinco anos de TV Marcelo (21) - Sem vergonha e sem limites

Então aguentem outros cinco anos, uma espécie de sequência indesejada da série Outras preces (não escutadas).

«Para se salvar, Marcelo está disposto a contribuir para o aumento da “pós-verdade” na política portuguesa. Também na questão da imigração, a “verdade” deixa de existir, e “não há números credíveis”. As “narrativas” é que contam; e ter influência nos meios de comunicação social para espalhar as “narrativas” convenientes ao senhor Presidente. Cada vez que ouvirem o PR a criticar o populismo e a demagogia não liguem nenhuma, ou comecem às gargalhadas. Marcelo Rebelo de Sousa é o político mais populista que existe em Portugal. Numa década, reduziu a presidência da república a um populismo sem vergonha e sem limites.»

«Populismo sem vergonha e sem limites», escreveu João Marques de Almeida sobre o Dr. Marcelo palavras que não hesito em subscrever. Não sei se estes últimos episódios terão ou não surpreendido JMA, mas seguramente não me surpreenderam a mim 9 (nove) anos e centenas de posts depois.

30/07/2025

SERVIÇO PÚBLICO: A irracionalidade do Sistema Eléctrico Nacional

Alguns dias depois do último apagão no dia 28 de Abril, o Dr. Pedro Amaral Jorge, presidente da APREN – Associação Portuguesa de Energias Renováveis, veio dizer urbi et orbi que «atribuir a culpa do apagão às renováveis é absurdo», o que, podendo ser exagerado ou não ser toda a verdade, não é absurdo dada a natureza intermitente das energias renováveis (ver a título de exemplo imagem aqui ao lado e atente-se que no caso português não há baterias) e a consequente complexidade de gerir os sistemas eléctricos que delas dependem fortemente. Estamos perante aquele tipo de problemas que se enquadram no adágio "too much of a good thing can be a bad thing", sendo certo que a medida do excesso e o limite a partir do qual temos um problema é eminentemente mutável e dependente do contexto físico e dos sistemas de gestão da energia existente.

A agravar estes problemas temos no caso português os incentivos errados para investir nas energias renováveis que atingiram o auge com os governos socialistas e foi a este respeito que recordei ter lido recentemente um artigo do Eng. Clemente Pedro Nunes, que vou citar integralmente para não se perder na espuma dos dias, como dizia o Boris, em intenção de quem preferir conhecer a natureza das coisas em vez de debitar slogans. Aqui vai ele.  

«A competitividade da economia portuguesa exige um Sistema Elétrico otimizado.
             
A eletricidade, entendida como ‘fluxo eletrónico’, não se armazena diretamente, o que torna o Sistema Elétrico muito exigente em termos do fornecimento estável aos consumidores.

A introdução, a partir de 2005, de milhares de MW de potências intermitentes, eólicas e solares, protegidas por FIT – Feed In Tariffs, provocou um ‘desastre económico’ no Sistema Elétrico Português.
As FIT são ‘mecanismos político-contratuais’ que conferem, aos investidores que deles beneficiam, uma ‘reserva de mercado’ com as seguintes vantagens:
1. A respetiva eletricidade tem acesso sempre garantido à Rede Pública, mesmo que o mercado dela não necessite;
2. O produtor tem sempre um preço de venda garantido, normalmente muito acima do preço do mercado livre nesse momento;
3. Todos os encargos com os backups para evitar os ‘apagões’ provocados pelas intermitências, são suportados pelos consumidores.

29/07/2025

Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (65)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa» e do «Semanário de Bordo da Nau Catrineta». Outras Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa.

O Dr. Centeno, sempre ele

A avaliar pelas muitas centenas de referências que todas as semanas polvilham a imprensa do regime, o Dr. Centeno é a figura mais importante deste regime. A semana passada não foi excepção, ou mais exactamente foi uma excepção excepcional pelo tempo de antena e tinta dedicados à última obra da criatura – a poucos dias do fim do mandato foi colocar a primeira pedra da futura sede do BdP, um investimento que pode chegue a cerca de 300 milhões ainda antes de lhe ser aplicado o coeficiente de derrapagem das obras públicas. O ministro das Finanças, o professor Pardal segundo o Dr. Centeno, reagiu pedindo um inquérito para averiguar como o Dr. Centeno congeminou tudo sem lhe dar cavaco, o que o Dr. Centeno desmentiu. Não sabendo quem está a mentir, arriscaria dizer que ambos não estão a dizer toda a verdade.

Ferrovia 2020 2030

A coisa que já ia em 37 mil dias de atraso no total dos troços “chocou” segundo o Público com o talude de xisto no Alandroal.

Porque falhou o programa Arrendar para Subarrendar? pergunta-se o semanário de reverência

Recorde-se que este programa lançado pela dupla Dr. Costa-Dr. Pedro Nuno representou um investimento de 2,8 milhões (aproximadamente o preço de uma penthouse no Parque das Nações) e abrangeria 320 imóveis, sendo 220 do Instituto Financeiro da Segurança Social e da Santa Casa da Misericórdia, e 100 de privados. Dois anos depois foram 290 casas arrendadas das quais só 62 estão ocupadas. Pior é difícil. Para não elaborar muito sobre o assunto, remeto para este o post “Os imóveis do Estado” de HPS que explica em palavras simples os porquês deste programa estar destinado a falhar.

A educação sexual – depois da imigração o PS dá mais um tiro no seu pé direito

Sem perceber que o Chega não o inventou, apenas deu uma voz esganiçada ao problema da imigração que os governos socialistas ignoraram (uma sondagem revela que quase 70% dos inquiridos concorda com maiores restrições à concessão da nacionalidade) e sobretudo agudizaram, o PS continua a insistir no mais do mesmo. Por falar em imigração, um dos legados dos governos socialistas é o caos administrativo em que deixou a AIMA incapaz de saber qual o número de imigrantes residentes em Portugal.

Como se não fosse suficiente para perder o seu eleitorado, o PS acrescentou à insistência nas ideias obtusas sobre a imigração ideias obtusas sobre uma educação sexual e inventou que o governo AD a queria suprimir, mais uma vez sem perceber que um número crescente de criaturas repudia a chamada ideologia do género que os socialistas vêm usando para afagar as meninges de uma escassa minoria de urbanitas como ersatz às ideias esgotadas do socialismo.

28/07/2025

Crónica da passagem de um governo (8)

Outras Crónicas do Governo de Passagem

Navegando à bolina
Hoje há lambujinhas, amanhã não sabemos

O Estado sucial, as empresas e as famílias parecem estar de acordo com o adágio do Eng. Sócrates - «pagar a dívida é ideia de criança» - e continuam a endividar-se a bom ritmo. Em Maio o Estado aumentou o seu endividamento em 4,4 mil milhões (mM) para 374,1 mM, as empresas não financeiras em 2,3 mM para 301,1 mM e as famílias em 1,2mM para 164 mM, no total o endividamento subiu 7,9 mM para 839,1 mM.

Enquanto o endividamento aumenta, a taxa de poupança das famílias que tinha recuperado, aproximando-se dos níveis europeus depois da pandemia, voltou a cair 3 pp no 1.º trimestre.

Não é Não? Talvez não

Não sei que cedências terá feito a AD para o Chega votar a lei da nacionalidade, mas aposto singelo contra dobrado que não chegam aos calcanhares do preço da geringonça que o PS infligiu ao país para governar em 2015 apesar de ter perdido as eleições. Seja como for, numa democracia madura os acordos partidários com menor ou maior amplitude são indispensáveis para assegurar a governabilidade.

Uma no cravo, outra na ferradura

O governo nomeou o Dr. Gabriel Bernardino para presidente da ASF - Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões, um matemático com um profundo conhecimento do sector de seguros e presidente em dois mandatos do EIOPS - European Insurance and Occupational Pensions Authority, onde realizou um trabalho reconhecido como de grande mérito.

O governo nomeou também governador do BdP o Dr. Álvaro Santos Pereira, “O Álvaro”, antigo ministro da Economia do governo PSD-CDS de Passos Coelho, aparentemente depois de ter uma nega do Dr. Vítor Gaspar, antigo ministro das Finanças do mesmo governo e claramente mais qualificado para o lugar de governador.

Os portugueses «vão ter razões para confiar no SNS»

Numa crónica do mês passado escrevi provocatoriamente a propósito dos €714.829 pagos em quatro anos a um dermatologista por 497 cirurgias em produção adicional e quase 1.500 no horário regular que se o pagamento tiver sido pago pelos honorários devidos deveria ser apontado como um bom exemplo. Aparentemente foi isso que aconteceu (e mais umas embrulhadas resultantes da microgestão do SNS), segundo as declarações do CEO do Hospital de Santa Maria ao Expresso.

Faltam médicos no SNS? Peçam ao PS para voltar a meter a pasta na bisnaga da TAP e usem-se os 3,2 mil milhões para acrescentar durante uma década uns 7 mil médicos aos cerca de 30 mil existentes (ninguém parece saber o número exacto).

Ó Dr. Sarmento, guarde uns trocos para o Banco de Fomento

Será a gigafábrica de Inteligência Artificial” em Sines, serão os 6,5 mil milhões de garantias para financiar PME e agora a «revolução» anunciada pelo chairman que consistirá em ressuscitar a Sofid para usar o dinheiro dos contribuintes europeus para investir «em países emergentes e em vias de desenvolvimento» (ou talvez em vias de subdesenvolvimento), aproveitando, acrescento, a experiência do Banco de Fomento a torrar dinheiro no Portugal imergente.

Take Another Plan. Uma bandeirada

mais liberdade
Para não variar, o governo insiste na fantasia de esperar vender 49,9% de uma empresa pública que desde a nacionalização no PREC até 1994 nunca teve um cêntimo de lucro, recebeu a preços actuais mais de mil milhões de euros e nesse ano embolsou mais 1,75 mil milhões, sem esquecer os últimos 3,2 mil milhões à pala da pandemia. (Sérgio Palma Brito)

O mercado da habitação funciona apesar dos programas estatais, mas não da forma prevista

Parece uma ideia despropositada o Estado e as autarquias venderem habitações sociais a quem nelas já reside, pela razão óbvia que não coloca no mercado mais casas para vender ou arrendar. Ou talvez não se, como parece estar a acontecer, os casas vendidas aos seus inquilinos por um preço abaixo do mercado forem por eles vendidas a preços de mercado. Por exemplo, a câmara de Lisboa vendeu 1.630 casas entre 2009 e 2021 a um preço médio de menos de 30 mil euros que decorridos 10 anos estão a ser revendidas por um múltiplo do valor de compra. (fonte)

27/07/2025

After Sleepy Joe, Donald P. Trump follows. Maybe the Oval Office is to blame.

«President Trump said he was "surprised" that Powell had been nominated to be chair of the Federal Reserve. "I was surprised he was appointed," Trump said. "I was surprised, frankly, that Biden put him in and extended him." However, Trump himself initially nominated Powell to lead the Fed in 2017. Biden renominated Powell in 2021.» (MSBNC)

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"P" stands for Parkinson

26/07/2025

UE, cada vez menos um gigante económico e cada vez mais um anão político e militar

As poucas dezenas de democracias plenas e sociedades prósperas existentes no planeta encontram-se na sua maioria na Óropa, o que permite a qualquer cidadão europeu dizer quase tudo o que lhe passar pela cabeça sem consequências desagradáveis, disfrutar de um nível de vida que faz inveja a quase todo o resto do mundo, com excepção dos Estados Unidos que pagam por isso um preço elevado, desde uma saúde pública deficiente, uma esperança de vida vários anos inferior à média europeia, uma sociedade dividida e pouco coesa, uma democracia problemática com um score muito inferior ao da média da UE e, last but not the least, um governo por uma criatura instável sofrendo de narcisismo patológico com uma corte que o bajula, tolerado pelos tecnogarcas que fingem acreditar nas suas baboseiras enquanto tentam extrair vantagens.

É claro que a Óropa tem imensos problemas como o envelhecimento, uma imigração que a irresponsabilidade dos governos deixou atingir o limiar de uma séria ameaça à coesão social e tem sido pasto dos vários nativismos (em todo o caso a uma escala não maior do que a dos EU, ao contrário da lenda), uma competitividade sufocada pela obsessão regulamentadora (em todo o caso não muito maior do que a dos EU [*]), e, sobretudo, não conseguiu criar até agora um mercado verdadeiramente único, nomeadamente na área dos serviços, o que não deixa de ser o resultado expectável para uma entidade supranacional que não é um verdadeiro Estado e tem no seu seio dezenas de Estados e nacionalidades que no passado não muito longínquo se combateram ferozmente.

Fonte

Por tudo isso, para uma criatura que aprecie a liberdade e o bem-estar, viver na Óropa é a quase todos os títulos mais agradável do que viver nos Estados Unidos, só que a felicidade não está garantida e no horizonte não se vislumbram políticas para resolver os problemas que afligem a UE. Veja-se por exemplo o quadro financeiro plurianual 2028-34 que apesar de ter aumentado de 1,2 biliões para 1,8 biliões continua a representar uma percentagem anual ridícula de 1,15% do Rendimento Nacional Bruto da UE e o pouco que representa irá ser aplicado, provavelmente e como de costume, para fazer felizes os agricultores, sobretudo franceses, e construir autoestradas. Os 50 mil milhões anuais para a competitividade (menos de 7% do que Mario Dragui estimou serem necessários) são insuficientes e arriscam-se a ser torrados em projectos para dar brilho aos governos. É um pouco mais do muito mesmo.

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[*] Um exemplo, o caos inerente ao sistema americano de supervisão bancária, por coincidência descrito esta semana no Expresso por Willen H. Buiter, um economista que o conhece muito bem.