Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos
de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.
» (António Alçada Baptista)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

23/08/2025

Os caminhos de ferro indianos como inspiração para resolver alguns problemas da CP

Em meados do século XIX, a Inglaterra introduziu na Índia, à época sua colónia, exames mais difíceis para a selecção de funcionários públicos, incluindo os locais, que até então eram frequentemente escolhidos por "cunha". Espera, assim, seleccionar os melhores candidatos e afastar os incompetentes bem relacionados. De passagem, é razoável suspeitar que parte dos problemas das ex-colónias portuguesas podem ter resultado de a administração colonial portuguesa não ter seguido o exemplo da pérfida Albion.

Ainda hoje, os exames para a selecção de funcionários dos caminhos de ferro indianos respeitam essa tradição e o exame do concurso para ajudantes de condutores de comboio tem perguntas de resposta múltipla como a seguinte:

Fonte: 1843 magazine

Pensando nos problemas da nossa CP, entre os quais se encontra inevitavelmente a falta de competência (e de diligência) do seu pessoal, imaginei sugerir ao ministro Dr. Matias incluir entre as reformas que o governo do Dr. Montenegro vai executar a introdução de exames deste tipo para a selecção de pessoal do nosso elefante branco ferroviário. É claro, que não querendo ser lunático, não estou evidentemente a pensar na selecção dos ajudantes de condutor, nem mesmo dos quadros da CP, estou apenas a pensar nas nomeações para a administração.

20/08/2025

A arma das terras raras pode vir a disparar no pé do Imperador Xi

É cada vez mais evidente que o Novo Império do Meio usou, usa e usará como arma o controlo das exportações e, nomeadamente, o controlo da exportação das chamadas "terras raras", um conjunto de minerais por agora essenciais para quase todos os dispositivos eléctricos e electrónicos, minerais dos quais a China dispõe de cerca de 90% das reservas mundiais. Com essa arma a China já conseguiu eliminar as restrições dos EU à importação de chips da Nvidia e adiar a aplicação das "tarifas". 

Por isso, à primeira vista, o controlo das exportações, por exemplo de terras raras, concede à China um poder incontestável nas guerras comerciais. À segunda vista não é bem assim. Apesar da China deter 90% das reservas, os restantes reservas são uma quantidade imensa que em muitos casos não são exploradas por restrições ambientais que a China não tem. Por outro lado, inevitavelmente, a escassez irá ser um poderoso incentivo para desenvolver processos de extração e refinação menos poluentes e encontrar alternativas, como no caso da BMW e Renault que já fabricam veículos eléctricos sem utilizar terras raras (fonte: China’s power over rare earths is not as great as it seems)

Finalmente, como resulta do modelo desenvolvido por Albert Hirschman (National Power and the Structure of Foreign Trade) a partir da economia de guerra alemã, utilizado recentemente por Clayton, Maggiori e Schreger (A Theory of Economic Coercion and Fragmentation) para estudar o poder geoeconómico que os serviços financeiros proporcionam aos EUA, se é certo se mesmo um pequeno aumento da quota de mercado de um país num produto -  por exemplo a China nas terras raras - poderá ter efeitos muito superiores no poder de controlo do mercado, é igualmente certo que uma pequena redução dessa quota terá efeitos múltiplos na redução desse poder do mesmo país.

19/08/2025

Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (67)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa» e do «Semanário de Bordo da Nau Catrineta». Outras Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa.

Uma vez mais, o Dr. Carneiro atrasou-se nas recomendações ao governo

Um dia destes, o Dr. Carneiro recomendou ao governo que declarasse a situação de contingência e criticou-o por se ter eclipsado em vez de, como se impunha, ter pegado na mangueira e combater os incêndios. Não me recordo de o Dr. Carneiro ter feito recomendações ou críticas quando, nas mesmas circunstâncias, em 2005 o Eng. Sócrates foi de férias para o Quénia, ficando o então MAI Dr. Costa a chefiar o Governo, ou quando o primeiro-ministro voltou e o Dr. Costa abandonou a mangueira e foi de férias enquanto o país ardia. Como também não me lembro de o Dr. Costa ter adiado as suas férias quando dos incêndios de Pedrógão Grande em 2017.

O socialismo do PS torna os ricos mais ricos

«Os mais ricos ficaram ainda mais ricos com o PS no poder», titula o semanário de reverência – uma fonte autorizada e credível quando, esquecendo-se dos favores que os governos do Dr. Costa fizeram à Impresa, se escreve algo crítico sobre a governação socialista.

«Em defesa do SNS, sempre» / «O SNS é um tesouro»

Os governos socialistas terminaram as Parcerias Públicas Privadas (PPP) para a gestão dos hospitais Amadora-Sintra e Loures criando mais duas fontes de problemas para o SNS. Por alguma obscura razão manteve-se a PPP do Hospital de Cascais (gerido pela espanhola Ribera Salud) que é um dos poucos hospitais em que o problema das urgências não se tem colocado e que vem apoiando os hospital geridos os apparatchiks do SNS.

18/08/2025

Tariff revenues don’t even cover the interest on the debt

«“The purpose of what I’m doing is primarily to pay down debt, which will happen in very large quantity,” Trump told the media earlier this month. “But I think there’s also a possibility that we’re taking in so much money that we may very well make a dividend to the people of America.”

The plan sounds welcome, in theory. But there’s just one problem. At present, tariff revenues don’t even cover the interest on the debt - let alone reduce its overall size.

According to Treasury data seen by Fortune, the accrued interest expense on Treasury notes in July alone was $38.1 billion. Add to that $13.9 billion in interest on Treasury bonds, $2.85 billion on Treasury floating rate notes (FRN), and a total of $6.1 billion across Treasury inflation-protected securities (TIPS) assets. The bill is eye-watering: The total comes to $60.95 billion for the month.

By contrast, Treasury statements show that tariffs only brought in $29.6 billion to offset it

Crónica da passagem de um governo (12)

Outras Crónicas do Governo de Passagem

Navegando à bolina
Ideias simples para reformas baratas

A parte mais interessante do desembarque de 38 marroquinos na costa algarvia, não foi o desembarque em si que suscitou enorme excitação à direita e à esquerda. Foi a circunstância de terem intervido – ou de alguns mídia terem relatado a intervenção de - três entidades do Estado sucial: Marinha, Polícia Marítima e GNR, que tomaram conta da ocorrência.

Uma empresa quer construir um parque eólico onde já tem uma central solar. O ICNF (Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas) só autoriza se o parque eólico for dotado de aerogeradores sem pás, coisa que só sairá do papel dentro de uma década, se for financiada a formação de ornitólogos e existirem cães para localizarem os passarinhos mortos. (fonte)

Do sistema de autobaixas inventado pelo governo do Dr. Costa, resulta que até 31 de Julho já houve mais de um milhão de autobaixas e há 52 mil pessoas que já esgotaram o limite de seis dias.

mais liberdade

E se, depois de tomadas estas medidas simples, ainda sobrar algum ímpeto reformista poderá o governo facilitar a vida online das empresas.

Take Another Plan. Esta privatização tem tudo para correr mal

« 1) A falta de coordenação e de vontade partidária para uma privatização total que fica totalmente suspensa ‘no ar’; 2) o elevado risco inerente à partilha desta empresa com este Estado, porque a TAP é um joguete eleitoral nas mãos de sindicatos e de partidos; 3) pelo tipo de governança que está em cima da mesa – com este Estado populista e eleitoralista a gozar de uma força de bloqueio no Conselho de Administração, (… ) A estratégia de vender apenas 44,9% ao privado maximiza o risco de continuarmos a ter uma companhia ingovernável e um acionista minoritário preso a uma relação tóxica com o seu ‘parceiro’ maioritário que mudará de opinião de cada vez que muda a cor política do governo.» (Pedro Castro, em entrevista ao Jornal Sol)

As sucessivas notícias da capacidade do aeroporto da Portela estar esgotada têm sido manifestamente exageradas

Para enquadrar melhor esta questão remeto para a série de posts do outro contribuinte “O dinheiro dos credores esgotou-se primeiro do que a capacidade da Portela”, onde se constata o sucessivo adiamento do anunciado esgotamento desde 1998, adiamento que acontecerá uma vez mais com o relatório dos consultores da ANA que concluíram que o aeroporto no formato existente tem capacidade para aumentar dos actuais 38 movimentos por hora para 42 e que as obras só serão indispensáveis para se atingir os 45 movimentos (fonte).

Há quem considere que as consequências das inconstitucionalidades que o TC encontrou também são manifestamente exageradas

Por falta de tempo e de vocação para esgravatar a Constituição não tenho uma opinião fundamentada, mas parece-me fazer sentido a análise e as conclusões de Miguel Pinheiro de que a divergência é mais de semântica do que outra coisa e por isso não fará sentido encostar al paredón verbal o TC.

Depois dos reformados, o governo conforta a tropa

O salário médio líquido da tropa aumentou o ano passado quase 20%, mais do triplo dos paisanos (6%) Depois não digam que as FA não estão preparadas.

O governo parece empenhado em fazer de cada português um funcionário público

Repetindo-me, o Dr. Costa aumentou os 655 mil funcionários públicos legados pelo Dr. Passos Coelho para mais de 740 mil, incluindo cerca de 16 mil “chefes” cujo número aumentou 45%. O Dr. Montenegro já atingiu 760,7 mil no 2.º trimestre, acrescentando mais 20 mil, acrescidos do número de reformados no período (no 1.º semestre foram 8 mil). A estes números devemos acrescentar em breve 1.406 técnicos dos quais 830 psicólogos e 576 especialistas da terapia da fala, serviço social e informática que irão ser contratados para as escolas.

 



17/08/2025

Ponhamos as barbas de molho

Fonte

O diagrama, baseado nos dados do estudo Excess mortality attributed to heat and cold: a health impact assessment study in 854 cities in Europe, mostra o aumento do risco de morte em 854 cidades europeias nos dias mais quentes (ou mais frios), com temperaturas superiores (ou inferiores) em média a 99% dos dias do ano. As nossas cidades têm uma exposição relativamente elevada ao risco de ocorrência de temperaturas extremas, não obstante serem cidades costeiras em que a proximidade do mar ameniza as temperaturas, principalmente porque a maioria das habitações tem uma eficiência energética baixa e a percentagem que dispõe de ar condicionado é muito baixa.

15/08/2025

A investigação e a inovação no Portugal dos Pequeninos submersas pelo corporativismo

A fusão anunciada pelo governo da FCT (Fundação para a Ciência e a Tecnologia), responsável pela política de I&D (Investigação e Desenvolvimento), com a ANI (Agência Nacional de Inovação), poderá contribuir para resolver uma dicotomia que justifica a FCT viver numa torre de marfim e a AMI ter resultados medíocres para mostrar, como evidenciam os relatórios do European Patent Office (EPO) que tenho vindo a comentar há vários anos na série de posts "O surto inovador e inventivo que nos assalta"  [(1), (2), (3), (4), (5), (6) e (7)].  

Para me cingir a 2024, vejam-se os títulos encomiásticos produzidos pelo jornalismo de causas, que mostram bem a boa imprensa de que desfruta a comunidade, para celebrar os 347 pedidos de patentes correspondentes a 33,5 por milhão de habitantes, um quarto 1/4 da média da EPO o que nos coloca 28.º lugar dos 39 membros.

É claro que imediatamente após o anúncio da fusão da FCT com a ANI vieram os protestos da comunidade de apparatchiks que parasitam aqueles dois organismos, inquietados pela hipotética ameaça às suas tenças. Só encontrei duas vozes discordantes deste coro: António Coutinho, ex-director do Instituto Gulbenkian de Ciência, e Daniel Bessa, ex-director-geral da COTEC Portugal.