Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

21/01/2025

Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (45)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa» e do «Semanário de Bordo da Nau Catrineta». Outras Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa.

A arte de torrar dinheiro (do) público. Três casos de estudo ou de polícia?

1. «Empresa Financeiramente Apoiada Continuamente (pelo) Estado Central»

O Tribunal de Contas confirmou que a desastrosa nacionalização da EFACEC da responsabilidade do Dr. Costa, do Dr. Caldeira Cabral, do Dr. Siza Vieira e do Dr. Costa e Silva pode ter um custo de 564 milhões de euros.

2. SIRESP

O SIRESP, empresa pública que gere o sistema de comunicações de segurança e emergência (sim, esse mesmo que falhou rotundamente os incêndios de 2017), criada pelo Dr. Costa na sua encarnação de MAI, onde esteve envolvido o seu amigo do Dr Lacerda Machado (igualmente presente na compra dos helicópteros Kamov, na reversão da privatização da TAP, na resolução do caso dos lesados do BES, no acordo do CaixaBank com Isabel dos Santos, no caso dos lesados do Banif e na tentativa de solução do crédito malparado da banca), o SIRESP, soube-se agora, fez «dois ajustes diretos de 13 milhões de euros por estações cuja substituição já tinha sido paga num concurso público anterior

3. O desastre da “internacionalização” da Santa Casa da Misericórdia foi apenas a internacionalização do desastre

Dediquei várias crónicas ao desastre da “internacionalização” da Santa Casa da Misericórdia no Brasil de que resultaram perdas estimadas em 20 milhões, enquanto o número de apparatchiks aumentava de cinco mil. O desastre do Brasil é internacionalização do desastre no Portugal dos Pequeninos e, ficou-se agora a saber, também em Moçambique.

O Dr. Pedro Nuno está a ficar um zero à esquerda

Escreve Miguel Pinheiro no Observador, e eu cito-o preguiçosamente, «O glorioso balanço da liderança de Pedro Nuno Santos resume-se desta forma: na segurança, cala; no combate ao governo, tropeça; nas presidenciais, hesita; no partido, isola-se. Assim, de facto, como o PS já percebeu, vai ser difícil chegar lá.»

Por falar em zero à esquerda, a AD e o Eng. Moedas em particular deveriam agradecer ao Dr. Pedro Nuno ter nomeado candidata oficial à presidência da câmara de Lisboa a Dr.ª Alexandra Leitão, a líder parlamentar do PS e da tendência berloquista.

Os socialismos do PS e do PS-D fizeram-nos mais pobrezinhos do que os pobrezinhos

mais liberdade

Spanish connection

À boa maneira dos governos socialistas, o governo espanhol de Dom Sánchez também está contaminado com fumos de corrupção. Um deles envolve o músico Daniel Sánchez, irmão do primeiro-ministro (sempre a família socialista) num projecto operático na zona fronteiriça para o qual o ele procurou cooperação com entidades portuguesas através de um intermediário. Adivinhem quem foi o intermediário. Acertaram se disseram Vítor Escária, assessor económico do Eng. Socrátes e mais tarde do Dr. Costa até ter sido demitido por ter sido arguido no caso das viagens para o Euro 2016 pagas pela Galp e, mais recentemente, ocupante de um gabinete onde se encontrava a célebre estante com 75.800€.


20/01/2025

Crónica de um Governo de Passagem (36)

Outras Crónicas do Governo de Passagem

Navegando à bolina
Os portugueses «vão ter razões para confiar no SNS»

A declaração em epígrafe do Dr. Montenegro é, evidentemente, uma hipérbole. Ainda assim, o governo tem feito alguma coisa, apesar do semanário de reverência pretender insinuar o contrário com títulos como «Governo falha objetivo de acabar com atrasos nas cirurgias» numa peça onde se pode ler que as cirurgias realizadas em 2024 aumentaram 13% e 5%, o número de inscritos para cirurgia se reduziu 6% e 0,44%, e o número de doentes que excedeu os tempos máximos de resposta se reduziu de 70% e 3% (percentagens respeitantes a oncológicas e não oncológicas, respectivamente).

Entre as muitas coisas que o governo não fez encontra-se expurgar os Serviços de Urgências das resmas de doentes (38% do total) classificados com fitas azuis e verdes do Protocolo de Manchester que estão a tentar usar as urgências pela demora no atendimento nos serviços normais.

Um passo à frente e outro atrás na academia

O governo do Dr. Montenegro vai rever o quadro legal das universidades (Regime Jurídico das Instituições do Ensino Superior) limitando o inbreeding, a doença endémica da academia do Portugal dos Pequeninos, introduzindo um período de 3 anos durante os quais os doutorados não podem leccionar na universidade onde obtiveram o doutoramento. Podiam ter ficado por aí, mas não e vão reintroduzir a eleição directa dos dirigentes, infectando as universidades com outra doença endémica até 2007 - a “gestão democrática”.

Ameaça russa? Qual ameaça? «Os portugueses viveriam muito bem como parte do império russo»

O Dr. Montenegro foi muito claro em recusar aumentar as despesas militares para 3% do PIB, objectivo que a NATO irá adoptar. Afinal de contas, isso significaria mais 320 euros por ano a cada português o que seria suficiente para comprar Ozempic para manter a linha, no caso do SNS não comparticipar.

Tentando fazer passar uma aspirina por um veneno

Como já escrevi várias vezes, a minha fé os efeitos da alteração da chamada Lei dos Solos para promover a construção de habitação é limitada e daí que a garantia do governo que desta alteração resultará uma redução de 20% do preço das casas é puro pensamento milagroso a roçar a demagogia mais enjoativa.

Isso não justifica a estúpida e mentirosa campanha da esquerdalhada em curso nos jornais para distorcer as coisas, como Aguiar-Conraria (uma criatura um pouco irritante por causa do hífen… mas a quem reconheço inteligência, saber e, em doses moderadas, independência) explica no seu artigo de opinião «Combater um cancro com aspirina»).

Reforma fiscal ✅Já está!

A semana passada o governo, talvez como reflexo pavloviano ao desafio do Dr. Cavaco Silva, tirou da gaveta um pacote com 30 medidas de simplificação fiscal, que não sendo evidentemente inútil, deixa intacta a monstruosidade do sistema fiscal com os seus milhares de taxas e taxinhas.

O quid da contribuição está no “direta

O governo disse que «saúda … a proposta de financiamento apresentada pela Concessionária [a ANA] não prever contribuição direta do Orçamento do Estado, em pleno alinhamento com o Governo a este respeito».

A insustentável sustentabilidade da Segurança Social

Foi muito celebrado o aumento para 35,9 mil milhões (cerca de 13% do PIB) do Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social. Pouca gente terá reparado que as responsabilidades futuras da Segurança Social pelo pagamento de pensões são estimadas em 807 mil milhões, ou seja, 290% do PIB e, por isso, o fundo cobre menos de 5% dessas responsabilidades.

19/01/2025

DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: Portugueses no topo do mundo (71) - A selecção social fez dos portugueses os mais ansiosos (e avessos ao risco)

Outros portugueses no topo do mundo.

Cruzei-me acidentalmente com este vídeo de Mark Manson, uma criatura que os produz com regularidade sobre os temas mais variados, alguns deles, como este, sobre certas características dos nacionais de alguns países. No caso do Portugal dos Pequeninos sobre a ansiedade - o título do vídeo publicado em Novembro de 2024 é «Understanding the Most Anxious Country in the World» - uma emoção exacerbada - um transtorno - que segundo as estatísticas assalta os locais muito mais intensamente do que em qualquer outro país do mundo.

Mark Manson, um observador perspicaz, ficou tão intrigado com a prevalência da ansiedade entre nós que visitou Portugal e falou com um certo número de pessoas e concluiu que na génese do fenómeno se encontra a selecção resultante da saída maciça a partir do século XV dos mais afoitos, ambiciosos e inconformados deixando para trás os conformados e o seu receio patológico das mudanças e a baixa tolerância ao risco.

Concordo, isso mesmo venho escrevendo há duas décadas (por exemplo neste post de 2006 precisamente sobre a aversão ao risco) baseado nos estudos e no modelo de Geert Hofstede, desenvolvido nos princípio da década de 70, e em particular num post desta série onde escrevi sobre o «processo de selecção social dos últimos cinco séculos que fez sair os inconformados de Portugal nos Descobrimentos e os fez e faz sair pela emigração».

18/01/2025

Doubts (345) - What could result from a general increase in tariffs?

(...) begin with Mr Trump’s most dangerous idea: a 10-20% across-the-board tariff, accompanied by a 60% levy on all Chinese imports. This would undoubtedly batter Asia. America is the leading export destination for ASEAN countries, India and Japan, as well as the second-biggest destination for South Korea and Taiwan. asean’s trade intensity, measured as the ratio of trade to GDP, is twice the global average. Asian countries with ageing populations require external demand to grow.

A simulation of a full-blown tariff scenario conducted by Oxford Economics, a consultancy, finds that non-China Asia would be a net loser. In the long run American imports from the region would fall by 3% and exports to it by 8%. Demands for retaliation would grow, driven by the political prerogative to “not look like a wimp”, notes Jayant Menon of the ISEAS-Yusof Ishak Institute, which hosted the ASEAN get-together. Such tit-for-tat tariffs would ultimately amount to self-harm. Economic theory suggests that protection can be optimal (in narrow balance-of-trade terms) when countries enjoy outsized market power in the trade of a particular good—a condition that does not hold for most of Asia. Worse still, American military partners, including Australia, India and Japan, would be forced to choose between their economic and security interests.

These dangers are clear. Some Trump loyalists play down the chances of an all-out trade war, however, insisting that the threat of enormous universal tariffs is merely a negotiating tactic. Although a less dramatic ratcheting-up of the America-China trade conflict would be less devastating, it would still pose risks.

17/01/2025

Pro memoria (436) - A desconformidade dos factos da "operação especial" com a narrativa do pessoal avençado nas TV portuguesas

À laia de serviço público, aqui vão alguns factos objectivos e verificáveis citados por Henrique Cardoso em Não, a Rússia não está a ganhar a guerra (para ser honesto, contaminados com algum wishful thinking). 

«1. Uma “operação especial” que devia durar três dias já vai em três anos de guerra. A resistência de Kiev, logo nas primeiras semanas, é uma derrota russa que ficará para sempre registrada na história das sagas e lendas da guerra.

2. A Rússia já perdeu 760 mil homens na Ucrânia. É muito acima do preço que a Rússia comunista pagou no desastre que foi a invasão do Afeganistão nos anos 80. Aliás, não posso deixar de ver uma repetição histórica: o desastre do Afeganistão foi fundamental para a queda da URSS em 1989-91. Em 2025, podemos estar próximos desse cenário. Putin não aguenta outro ano como 2024. Só em 2024 estima-se o número de baixas russas em 420 mil. Para termos a dimensão deste número, devemos lembrar que os EUA, em quase 20 anos de guerra no Iraque, perderam apenas 4500 soldados. Repita-se: a Rússia em três anos perdeu 760 mil homens na Ucrânia; os EUA 4 mil e tal no Iraque em duas décadas.

3. A economia russa está tudo menos sólida. As taxas de juro são absurdas (23%), e a inflação está nos 9%. Mesmo com toda a propaganda, os russos têm medo de um novo colapso económico como aquele que viveram nos anos 90.

4. A Ucrânia até conseguiu invadir espaço russo, Kursk; algo altamente simbólico (é a primeira vez que a Rússia sofre uma invasão desde 1941) e altamente decisivo nas negociações de paz do futuro próximo.

5. Além da mediocridade da campanha em terra, a marinha russa foi humilhada no Mar Negro. As exportações ucranianas (sobretudo os cereais) não foram afetadas, o que foi fundamental para manter o preço do pão em níveis aceitáveis na Europa. Recorde-se que a estratégia de Putin passava por asfixiar o cabaz de bens essenciais da Europa, liderado pelo pão obviamente. Falhou por completo: pelo menos 15 dos seus navios foram afundados ou danificados por drones ucranianos.

6. A reviravolta na Síria é outra humilhação: Moscovo foi incapaz de proteger o seu aliado, Assad. Putin não tem tropas suficientes para derrotar a Ucrânia e defender a integridade da Rússia, quanto mais para defender aliados no Médio Oriente.

7. Registe-se ainda aquela que será porventura a humilhação mais risível: a convocação de soldados norte coreanos. Seria o mesmo que os EUA pediram ajuda a países como Honduras e Panamá.

8. As sanções ocidentais levaram a Rússia para a dependência da China, o que não está a ser salutar para as relações entre Moscovo e Pequim.

9. A NATO cresceu na resposta, ou seja, entraram novos países que tinham mantido até 2022 a sua neutralidade, Suécia e Finlândia, dois velhos inimigos de Moscovo no Báltico. O poder militar (e a indústria militar) da Suécia é particularmente formidável.

10.Outros países da NATO estão a recuperar ou a reforçar a tradição do serviço militar para rapazes e raparigas. Até Portugal, na outra ponta da Europa, está a reagir

16/01/2025

Bowing to Donald Trump

Cartoon by Anne Telnaes, Pulitzer Prize-winning,
refused to be published by Jeff Bezos' Washington Post

Bezos (Amazon), Zuckerberg (Meta), Sam Altman (OpenAI), Patrick Soon-Shiong (owner of the Los Angeles Times) and Mickey Mouse bowing to a statue of Donald Trump.

15/01/2025

DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: Portugueses no topo do mundo (70) - A fatalidade da decadência bolsista e a fatalidade dos cabos submarinos

Outros portugueses no topo do mundo

O que se pode dizer de uma bolsa como a de Lisboa cujo índice PSI 20 está hoje limitado a 15 (ALTRI, BCP, Corticeira Amorim, CTT, EDP, EDP Renováveis, Galp Energia, Ibersol, Jerónimo Martins, Mota-Engil. NOS, REN, SEMAPA, SONAE e Navigator), com um número total de empresas cotadas ao longo dos anos que de 150 caiu para 48 e com uma evolução compararativa nos últimos 25 anos como a mostrada no gráfico seguinte (CAC40 Paris ; ISEQ All Share Dublin)?

Euronext

Pode dizer-se que é uma bolsa em decadência de um país periférico e dependente, ou algo semelhante. Já para fazer um título como «Lisboa tem potencial para bater outras bolsas em 2025» será preciso encontrar uma explicação como a de Eduardo Lourenço, que não me canso de citar: estamos perante um «sentimento de fragilidade íntima inconsciente e a correspondente vontade de a compensar com o desejo de fazer boa figura, a título pessoal ou colectivo».

Já que estou com o Portugal dos Pequeninos no divã, cito mais um exemplo do mesmo sentimento expresso por um professor da UAL que considerou o nosso torrãozinho natal como «um importante player internacional na conectividade global» porque a fatalidade da geografia fez desaguar cabos submarinos na costa portuguesa.