Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos
de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.
» (António Alçada Baptista)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

03/10/2025

CASE STUDY: O que nos diz o ranking das escolas de ensino secundário (2)

Continuação de (1)

No post anterior chegámos a duas conclusões: os resultados das escolas privadas são claramente melhores em 2,14 pontos (= 13,50-11,36) e há tendência das piores escolas "compensarem" os seus alunos com uma avaliação menos exigente (a diferença entre as médias de exame e as notas internas de exame é 1,21 pontos nas melhores e 4,90 pontos nas piores).

Vejamos agora no quadro seguinte dois indicadores estatísticos relacionados com a dispersão dos valores das notas de exame e internas. 

Os valores dos desvios-padrão (uma medida da dispersão ou variação em relação à média) são claramente superiores nas escolas privadas, quer nas notas de exame, quer internas (1,69 e 0,88, respectivamente) em relação às públicas (1,08 e 0,62), Já quando à amplitude dos intervalos da variação (diferença entre a nota mais alta e a mais baixa) os valores são muito mais próximos, sobretudo nas notas de exame. Uma explicação possível é que as escolas privadas têm maior heterogeneidade do que as escolas públicas, isto é, coexistem alunos muito bons com alunos fracos ou medíocres.  

O quadro seguinte regista os mesmos indicadores, mas agora na dicotomia entre melhores e piores escolas. 

As piores escolas apresentam maior dispersão das notas (1,29 e 0,77, contra 0,66 e 0,60) e maior amplitude dos intervalos de variação (só há uma escola pública nas 40 melhores e por isso o intervalo de variação é 0). No nível das melhores e piores escolas, a comparação entre escolas públicas e privadas não tem significado, visto que entre as melhores só há uma escola pública e entre as piores só há duas escolas privadas.

O quadro seguinte refere-se ao coeficiente de correlação linear entre notas de exame e notas internas, isto é, à medida da relação linear entre essas duas variáveis. Os coeficientes mais próximos de +1 correspondem a uma correlação perfeita das duas variáveis que aumentam e diminuem em paralelo, os valores negativos mais próximos de -1 significariam que as duas variáveis se movem em sentidos opostos e o valor 0 significaria que as duas variáveis não estão relacionadas. 


Dos valores do quadro, podemos concluir que a relação entre notas de exame e internas é claramente mais fraca no caso das escolas públicas em resultado do factor já identificado no post anterior onde se constatou que as piores escolas "esticam" muito mais as notas dos seus alunos (1,21 pontos nas melhores, aumenta para 4,90 pontos nas piores) e as piores escolas pesam mais entre as públicas.

No próximo post, vamos analisar a influência da localização das escolas nas notas, segmentando notas de exame e  internas e escolas públicas e privadas.

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(Continua)

02/10/2025

ARTIGO DEFUNTO: A megalomania do jornalismo de causas

Por estes dias está a decorrer o exercício da NATO Tiger Meet 2025 na base aérea de Beja, onde estarão presentes quase dois mil militares de vários Estados membros da NATO, o que foi aproveitado pela Saab sueca, fabricante do caça Gripen, e pela Lockheed Martin, fabricante do caça F-35, para promover os seus produtos. Como é óbvio ululante, não vieram cá para vender à FAP a sua mercadoria.

Para que conste, um F-35, dependendo do modelo em concreto, pode custar ao redor de 100 milhões e o orçamento de 2024 da Força Aérea Portuguesa (FAP) não chegou a 600 milhões, o que seria suficiente para comprar seis F-35. De resto, cada um dos 28 F-16 de que dispõe a FAP deve custar actualmente, sem armamento, cerca de 27 milhões, que foi o preço que a Argentina pagou o ano passado, e custou no passado uma fracção disso.

É neste contexto que um jornal económico publica um artigo com o título «Americanos e suecos fazem fila para vender aviões de combate a Portugal» em que se escreve «Aquece a corrida para vender a Portugal os substitutos do F-35. Depois da Saab mostrar o seu Gripen, agora foi a vez dos americanos da Lockheed Martin apresentarem o F-35», onde além dos delírios de grandeza se troca o F-16, o caça que se pretende substituir, pelo F-35. 

E estamos nisto.

01/10/2025

CASE STUDY: O mercado português dos mídia é "moderadamente concentrado". E esta, hem?


Foi com alguma surpresa que vi no gráfico acima (publicado numa newsletter da Economist a partir de dados do Global Media & Internet Concentration Project ) que Portugal ocupa o 5.º lugar em 19 países com maior concentração dos mídia.

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O Índice Herfindahl–Hirschman (IHH) mede a competitividade pelo grau de concentração dentro de um mercado específico. Um HHI inferior a 1.500 é considerado um mercado competitivo, um HHI de 1.500 a 2.500 é moderadamente concentrado e um HHI de 2.500 ou mais é altamente concentrado. O mercado português dos mídias é, pois, classificado como moderadamente concentrado.

30/09/2025

Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (71)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa» e do «Semanário de Bordo da Nau Catrineta». Outras Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa.

O Estado social está prenhe do PS

Segundo o jornal SOL, 352 trabalhadores da Carris (14% do total) são militantes activos do PS. Em 2017 quando a Carris foi transferida para a câmara de Lisboa só havia 161 militantes. Foi o Eng. José Animal Feroz Sócrates que um dia disse estar “o PS grávido do Estado”. Seria mais rigoroso ter dito que o Estado social está prenhe do PS.

O PS pode estar a caminho a irrelevância

Segundo um estudo da GfK Metris citado pelo Expresso, o PS em 122 dos 308 concelhos (dos quais dispõe actualmente de 79 presidentes) está em risco de “erosão eleitoral” e em 58 concelhos o risco de perda de eleitorado é “crítico” e em 63 é “elevado”. No final, o PS português pode vir a ter o mesmo destino irrelevante do PS francês que do “mon ami Mitterrand“ do Dr. Soares evoluiu para M Olivier Faure do Dr. Costa.

Mais sequelas dos delírios gasosos do Dr. Costa e do Dr. Galamba

Em retrospectiva, há uns anos o Dr. Costa e o Dr. Galamba subsidiaram com uns milhões do PRR a Fusion Fuel, uma empresa que iria fabricar eletrolisadores para a produção de hidrogénio verde e o Dr. Costa fez uma das suas declarações bombásticas garantindo que a produção de hidrogénio verde iria ser a nova "reindustrialização". Dois anos e meio depois, a nova "reindustrialização" consistiu na falência da Fusion Fuel com dívidas de 24 milhões e 5,8 milhões de subsídios torrados.

Agora foi a vez do chamado “Anel de Sines” da REN para hidrogénio verde, investimento com 50 milhões dos contribuintes europeus, que está à espera do primeiro do meio milhão de clientes domésticos e dos 1.300 clientes industriais que apareceram nos sonhos húmidos de Dr. Costa e do Dr. Galamba.

O custo da “obra” que o Dr. Centeno nos deixou é do domínio divino

Perguntado na sua audição no parlamento sobre o custo que terá a nova sede do BdP o Dr. Centeno respondeu «o valor final a Deus pertence».

29/09/2025

Crónica da passagem de um governo (17)

Outras Crónicas do Governo de Passagem

Navegando à bolina
De volta ao mistério dos obstetras

A semana passada referi que os 1.960 obstetras (e ginecologistas) inscritos na Ordem dos Médicos fizeram cerca de 85 mil partos em 2024, e que desses os 748 que trabalham no SNS fizeram 80% dos partos. Acrescento agora que os maiores hospitais privados dispõem de 412 obstetras (Luz 113; Cuf 299) e que, baseado no número de certidões pedidas à OM, estimo que menos de 100 obstetras exercem medicina no estrangeiro.

Comparando o número de partos por obstetra/ano, Portugal tem 45 (85 mil, 1,9 mil), Espanha tem 64 (318 mil, 5 mil) e Reino Unido tem 73 (660 mil, 9 mil), o que me leva a concluir que por cá a produtividade não é grande coisa, para ser simpático.

Na falta de dados rigorosos cada um pode imaginar o que quiser ao seu gosto, porém baseado nos números disponíveis não se pode concluir que exista uma insuficiência absoluta de obstetras e, por isso, é mais provável que se trate de uma má gestão dos recursos existentes, como de resto quase todos os recursos do Portugal dos Pequeninos e é isso que explica uma produtividade geral medíocre, para ser outra vez simpático, e em consequência um nível de vida inevitavelmente medíocre.

Afinal quantos professores temos?

Todos os dias a imprensa do regime continua a falar da falta de professores, das turmas sobrelotadas, dos alunos sem professores, dod horários por preencher, etc. (exemplo) O próprio ministro minimiza o problema e admite que em 130 mil professores existem “mil horários” por preencher.

130 mil professores? Pelas minhas contas, existiriam cerca de 150 mil e, por via das dúvidas, fui consultar a Pordata, que, em 2024, baseada nos dados oficiais, inventariou 149.124 professores no ensino não universitário. A ser assim, evaporaram-se 20 mil professores, a menos que o ministro não esteja a contar com os 11 mil que em média faltam e com os milhares de delegados sindicais da FENPROF, da FNE (Federação Nacional de Educação) e dos 5 sindicatos independentes.

Em conclusão, não se sabe ao certo quantos professores existem, sendo certo que qualquer que seja o número pode sempre concluir-se que são insuficientes aumentando o número de disciplinas, como se vem fazendo para compensar a apesar da redução de cem mil alunos do ensino não universitário durante os governos socialistas.

Insanidade é continuar a fazer o mesmo e esperar resultados diferentes

Não obstante a oferta de habitação ser insuficiente porque não se constrói o suficiente, o governo continua a promover o aumento da procura, aumentando a garantia pública de 1,2 mil milhões para 1,55 milhões. É claro que o número de transações e os preços da habitação continuaram a aumentar no 2.º trimestre (15,5% e 17,2%, respectivamente, em relação ao mesmo trimestre do ano passado).

Há quem diga que o aumento dos preços da habitação não é um problema porque 70% das famílias são proprietárias das casas onde vivem e por isso ficam mais ricas. Não é uma visão que adira à realidade porque as famílias ficam com o mesmo activo com um valor de mercado inflacionado e se quiseram trocar de casa vão ter de pagar um preço igualmente inflacionado, ou seja em termos reais ficam na mesma

A inflação dos preços da habitação está para o Estado sucial como o turismo para a economia

Como se viu, as famílias proprietárias não ganham nada com o aumento do preço das habitações. Quem ganha são as autarquias, cujas receitas de IMI e IMT aumentaram 1,5 mil milhões em 10 anos e o peso destes dois impostos na receita total dos municípios mais do que duplicou (fonte). Sem o balão dos preços do imobiliário e sem o turismo que pesa 12% do PIB já estaríamos a pedir o regresso da troika.

Hoje há conquilhas, amanhã não sabemos

O governo embandeira em arco porque no 1.º semestre houve um excedente orçamental de 1.4 mil milhões e por isso o futuro do Estado sucial é risonho. O Conselho das Finanças Públicas não pede licença para discordar e revê em baixa o crescimento do PIB e o regresso ao défice orçamental em 2026. No vosso lugar daria mais crédito ao CFP.

A ver os comboios passar

Estava previsto que a compra das novas 117 automotoras para a CP fosse financiada por 819 milhões dos dinheiros da Óropa. Como os concursos ficaram parados durante quase dois anos, foram perdidos 191 milhões de euros que terão que ser cobertos pelo OE.

28/09/2025

CASE STUDY: O que nos diz o ranking das escolas de ensino secundário (1)

Usando os dados do «Ranking das Escolas 2024 por escola, concelho ou disciplina no 9.º ano e secundário, com base nas notas dos exames» publicados em Abril pelo Observador (em parceria com a Nova SBE), calculei os valores de alguns indicadores estatísticos para extrair conclusões relativas à dicotomia escolas públicas-escolas privadas, escolas nas grandes regiões metropolitanas e fora delas, quer em termos de qualidade de ensino (ou mais exactamente da qualidade medida pelas notas de exame), quer da tendência para sobrevalorizar as "notas internas".  

A primeira evidência é a confirmação de que a média de exame nas escolas privadas é claramente superior à das escolas públicas - no ano lectivo passado a diferença foi de 2,14 pontos (13,50-11,36). 


A segunda evidência é, ao contrário da ideia generalizada de que as escolas privadas "esticam" as notas internas mais do que as escolas públicas, que o "esticanço" é mais acentuado nas públicas (3,21 contra 2,24).

Não surpreende, pois, que as escolas privadas dominem entre as escolas com melhores médias de exame  - 39 das primeiras 40 escolas são privadas.


Nem surpreende que as escolas públicas dominem entre as escolas com piores médias de exame - 38 das últimas 40 escolas são públicas.

O que pode ser mais inesperado é constatar que são as piores escolas, quer privadas quer públicas, que "esticam" muito mais as notas dos seus alunos. No conjunto, o "esticanço" de 1,21 pontos nas melhores, aumenta para 4,90 pontos nas piores, mantendo-se maior, num caso e noutro, o "esticanço" das escolas públicas.

O que se pode concluir até aqui? Pelos menos duas coisas: melhores resultados das escolas privadas e tendência das piores escolas "compensarem" os seus alunos com uma avaliação menos exigente.

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(Continua)

26/09/2025

Another Brick in the Wall and Shooting Themselves in the Foot

[Continuation of Another Brick in the Wall]
«You graduate from a college, I think you should get, automatically as part of your diploma, a green card», Donald Trump said last year during the election campaign.

That was last year, which on Trump's time scale is an eon. Last week, Trump announced a $ 100,000 fee per year for new H-1B visa applications, most of which are filed by tech companies hiring foreign graduates. Approximately 85,000 visas were issued annually through a lottery at a cost of around $2,500 in legal and filing fees.

Source

Cognizant is an American technology company, little-known in Portugal, with around 300,000 employees. Tata Consultancy Services and Infosys are two Indian technology multinationals operating in the US, with 600,000+ and 300,000+ employees worldwide. This time, we're not talking about semi-literate immigrants working in construction or agriculture. We're talking about immigrants highly skilled in science and technology.