Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos
de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.
» (António Alçada Baptista)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

10/07/2025

A vida de alguns devotos da Trumpologia não é fácil

Até agora identifiquei três espécies principais de adeptos da Trumpologia: (1) os devotos com limitada capacidade de elaboração mental que acreditam em qualquer treta debitada pelo objecto da sua devoção e constituem provavelmente a maior parte dos eleitores americanos de Donald Trump e dos seus admiradores no estrangeiro; (2) os adeptos providos de capacidade média de elaboração mental, e em certos casos até acima da média, que por isso se apressam a elaborar justificações dos discursos e das acções do Sr. Trump e (3) os cínicos e realistas para quem o Sr. Trump é apenas o veículo possível para adoptar algumas políticas da sua conveniência, grupo onde podemos encontrar a maioria dos tecnogarcas e outros oportunistas que parasitam a Trumpologia.

Baseada numa espécie de credo quia absurdum, a vida para os primeiros é fácil e, por razões diferentes, também é fácil para os terceiros ou pelo menos é fácil até ao ponto em que as acções do Sr. Trump atropelam os seus interesses e, mais raramente, as suas ideias.

Difícil é a vida dos segundos, nos quais podemos incluir as figuras da direita liberal ou conservadora doméstica, constantemente sobre pressão para darem o melhor dos seus intelectos para justificar com um módico de racionalidade discursos e acções contraditórias, sem lhes ocorrer que com um cinismo comparável ao dos tecnogarcas americanos poderiam invocar o princípio Amicus meus, inimicus inimici mei (Mateus 17:22-23) e dispensarem-se de contorcionismo, na melhor hipótese, ou patetice, na pior.  

Poderia dar inúmeros exemplos, desde as "tarifas" que mudam todos os dias às políticas orçamentais, mas vou apenas citar os dois mais recentes relacionados com a invasão da Ucrânia: depois de ter exibido várias demonstrações de apreço e compreensão, o Sr. Trump criticou duramente o Sr. Putin pelas tretas com que ele desde sempre o vem enrolando e, menos de uma semana depois de ter sido inesperadamente suspensa a entrega de armas à Ucrânia, foi inesperadamente retomada.

09/07/2025

A saúde em Portugal. Desfazendo algumas ideias feitas (3)

[Continuação de (1) e (2)]

FALÁCIA: A resposta à pandemia de Covid-19 foi muito afectada pela falta de todos os profissionais de saúde disseram as autoridades portuguesas à OECD, como se pode ver no quadro seguinte.


FACTO: Já vimos que em termos comparativos Portugal é o país europeu que mais aumentou o número de médicos por mil habitantes nos últimos 20 anos e actualmente é o segundo país da Europa com mais médicos. Por isso, o problema não foi a falta de recursos, foi a falta de competência na gestão desses recursos.

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Fonte: Health at a Glance: Europe 2024, OECD, Nov 2024

08/07/2025

Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (64)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa» e do «Semanário de Bordo da Nau Catrineta». Outras Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa.

Take Another Plan. Isto é um caso de polícia

Decorrido mais de um ano do Dr. Pedro Nuno ter saído de cima da TAP, ainda se fazem sentir os efeitos da sua gestão. Em 2016 a TAP contraiu um empréstimo obrigacionista à Azul, seu accionista de então, e à Parpública, seu accionista de sempre, empréstimo que até hoje não foi liquidado cujo pagamento a Azul reclama em tribunal e a Parpública considerou irrecuperável

Entretanto, ficaram a conhecer-se ilegalidades em duas dezenas de contratos assinados por Mme Ourmières-Widener e pelo seu sucessor Dr. Luís Rodrigues, no total de centenas de milhões de euros que não foram submetidos à fiscalização prévia do TdC

Ainda assim, isso são miudezas face à brutalidade do facto de a TAP valer actualmente pouco mais de metade dos 3,2 mil milhões de euros injectados pelos governos socialistas.

O socialismo afecta as meninges até dos socialistas providos de um módico de senso comum

O Dr. Carneiro, actual líder do PS acusou «os partidos da direita (que) estão concentrados em matérias que não são as que preocupam as pessoas» apresentando ao parlamento propostas sem interesse para o povinho. O Dr. Carneiro não explicou se nessas propostas ele inclui os temas da imigração e da redução de impostos, por exemplo.

Para um autarca socialista os privados são uns patetas e o Estado central uma vaca leiteira

O Dr. Pizarro, ex-ministro da Saúde do Dr. Costa, actualmente candidato à presidência da câmara do Porto, prometeu um programa de construção de 5.000 fogos em regime de renda moderada entre 300 e 800 euros para o que conta com 650 milhões de euros dos “privados” assegurando a câmara «metade dos 62,5 milhões do custo anual das rendas, esperando receber o remanescente do Estado». Em suma, o Dr. Pizarro propõe-se como presidente de uma câmara, que tem um orçamento de despesas de capital de 127 milhões, que os “privados” invistam 650 milhões em habitações de renda “social” e o Estado central pague parte das rendas.

Para a CP ser lucrativa só é preciso aumentar os subsídios

Relembro que o Dr. Pedro Nuno, ministro das Infraestruturas de então e ex-líder do PS de hoje, celebrou os lucros da CP de 9,2 milhões em 2022 autoelogiando-se pelo “conseguimento” à custa de 2,3 mil milhões de subsídios de exploração. Como nos anos seguintes os subsídios de exploração não foram suficientes os “lucros” de 2023 baixaram para 3,6 milhões, os lucros de 2024 baixaram para 1,8 milhões e o investimento em 2024 foi pouco mais de um quinto do previsto.

07/07/2025

Crónica da passagem de um governo (6)

Outras Crónicas do Governo de Passagem

Navegando à bolina
Agora é oficial. A reforma do Estado sucial, se existir, consistirá em alivar o stress dos funcionários públicos

O Dr. Saraiva Matias, ministro da Reforma do Estado, declarou que o governo está «a trabalhar numa reforma administrativa assente na simplificação, digitalização, articulação e responsabilização, não para reduzir o Estado, mas para fortalecer a sua relevância e legitimidade».

Quando se sabe que o Dr. Costa transformou os 655 mil funcionários públicos que recebeu do Dr. Passos Coelho em mais de 740 mil, incluindo cerca de 16 mil “chefes” cujo número aumentou 45%, devemos ficar pré-ocupados com o propósito do Dr. Matias de não reduzir o zingarelho que consome mais de 40% do PIB.

E também devemos ficar pré-ocupados com a “gigafábrica de Inteligência Artificial” em Sines

Não porque a ideia seja estúpida, mas porque quem está a apostar nela é o Banco Português de Fomento que já entregou a candidatura para o financiamento pelos contribuintes europeus. Juntar os fundos europeus e uma entidade várias vezes anunciada para as «próximas semanas», sucedendo a um banco de fomento que fora privatizado por um governo PS, tinha ressuscitado em 2018 e segundo o Dr. Siza já estava criado em Janeiro de 2020 e só viu a luz do dia em 2021, que geriu um sistema de garantia mútua que até ao final de 2020 registou perdas por pagamento de garantias de 881,08 milhões.e desde 2012 até ao ano passado registou perdas de 124 milhões nas cerca de 300 startups em que participou, constitui a receita perfeita para o desastre.

O Dr. Montenegro também acredita que «pagar a dívida é ideia de criança»?

A dúvida justifica-se porque num contexto internacional de volatilidade significativa os governos AD estão a aumentar o endividamento do Estado que em valor absoluto desde o início do ano passado cresceu de 226,7 para 284,5 mil milhões e desde o início do ano o rácio dívida/PIB cresceu 5,1 pontos percentuais.

O Dr. Montenegro quer continuar a política de extorsão fiscal do Dr. Costa?

Depois de ter aumentado no ano passado 0,1 pontos percentuais para 35,6%, o governo prepara-se para aumentar a carga fiscal novamente. É o resultado inevitável da receita fiscal ter aumentado até Maio 13,2% face ao ano passado, muito acima do aumento nominal do PIB.

Insanidade é continuar a fazer o mesmo e esperar resultados diferentes

Já se sabia que no 1.º trimestre o Índice de Preços da Habitação cresceu em termos homólogos 4,7 pontos percentuais e agora ficou a saber-se que o número de novos contratos diminuiu 10,4%. Como habitualmente, na falta de dados fiáveis, discute-se filosoficamente se foi por causa do aumento da procura de novas habitação para compra devido ao Crédito Jovem, se foi a deslocação do mercado tradicional para o arrendamento de curta duração ou outra qualquer. O que se sabe é que 70% dos portugueses têm a sua casinha o que tem como consequência uma notável imobilidade devido aos imóveis a adicionar à imobilidade cultural da mão-de-obra com dificuldade de se mover para onde há oportunidades de trabalho porque, como dizia o saudoso Belmiro de Azevedo, os empregos não nascem ao pé de casa.

Os portugueses «vão ter razões para confiar no SNS»

mais liberdade

Sendo certo que os governos socialistas do Dr. Costa fizeram um notável trabalho de aumentar as listas de espera como gráfico mostra, o governo do Dr. Montenegro ainda não nos deu razões para confiar no SNS. Apesar dos seus planos para reduzir os tempos de espera das cirurgias, o número de "utentes" na lista em Maio é praticamente o mesmo de Novembro.

06/07/2025

Truth comes out in anger or with friends like these, who needs enemies? (3) - A new party is born fathered by an old star, the former first buddy

[Other Who needs enemies?]

The emergence of Homo interneticus

Erasmo Amato

In 2004 Michael H. Goldhaber published the essay "The mentality of Homo interneticus: Some Ongian postulates" (*) anticipating that the Internet would create a new type of human being, the Homo interneticus that would succeed Homo sapiens vulgaris. Due to the excessive use of the Internet, the Homo interneticus would have his mind altered by the constant dispute for his attention and would lose the notion of time and space.

Goldhaber's essay, from which I have extracted the following excerpt, proved to be prescient and sheds some light on the intense struggles between the tribes that follow the various most extreme and exacerbated ideologies that fill the internet space today.

«Without notable clues to a particular identity being provided by how one was raised, being cast in a sea of ten billion or so rough and directionless equals would be too much of a challenge. A floating spar — or several — must be found to cling to. H. interneticus tends towards community on the basis not of birth so much as of what feels like commonality — tasks and goals inspired by those who resonate with one — whether from some inner, possibly inchoate sense of being, a chance encounter, a shared bit of history, an aptitude that finds use, an almost arbitrary predilection or just a desire for meaning, connection or focus. These Internet communities are unshackled by space, unbounded by borders, though probably dominated by a rough version of the English language. Like any community, their enfoldings multiply through use and mutual familiarity, providing what remains of the dimension of time.

If the printed book first helped bind the world of European science and scholarship through the universal use of learned Latin [13], that language was comprehensible only to an elite — and male — few. As booksellers ought a wider market, they helped propel vernacular tongues into standardized, written and printed form. New feelings of nationality were thus brought into being, further aided by the desire for those literate in each "tongue" to have access to professions such as law and to government positions. So arose the drive for "national self–determination," meritocracy and even democracy.

Where stands H. interneticus when it comes to nationalism and electoral democracy? As an inevitable member of multiple global communities, on the whole she finds the pull of any particular nationality waning, especially insofar as nationalism implies loyalty to a particular government and its actions. If an Internet community happens to veer in some undesirable direction, it is easy to secede and start a new one with other dissidents, and in next to no time. By contrast electoral politics and representative democracy is achingly slow and unreliable, necessitating compromise and often leaving one agonizing in opposition for year upon year. H. interneticus has no sense of the future — no tolerance, that is, for waiting. Change should occur right now, instantaneously.

But what of the real, material world? Internet community formation might be an adequate substitute for representative democracy in the world of the Internet itself, but how can environmental issues, poverty, war, violent crime, terrorism, medical care, and on and on, be dealt with just by changing the subject? My guess is that to a first approximation the answer is that, for H. interneticus, cyberspace is most of the real world, and the rest is an appendage of it. If anything is to be done about global warming, for example, it will be through communities coalescing on the Internet and then taking a variety of actions ranging from developing alternative modes of transport (or dispensing with it in favor of heightened use of the net to replace travel and shipping alike) to direct action powerful enough that governments and corporations will have little choice but to acquiesce.

As Internet communities proliferate and interweave they will take on more and more of the functions now more or less the monopoly of government and business alike. It isn’t much of a stretch to visualize the Internet successes such as Google, e–Bay and Amazon gradually being replaced by open source distributed processing just as Napster was by Gnutella. From there it is not much of a further stretch to imagine the transformation of all kinds of organizations into distributed Internet versions.»

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(*) The term "Ongian" evokes Walter J. Ong, the American Jesuit priest and professor of English literature,  who studied how the transition from orality to literacy influenced culture and changed human consciousness.

05/07/2025

A saúde em Portugal. Desfazendo algumas ideias feitas (2)

[Continuação de (1)]

FALÁCIA: Há um excesso de médicos especialistas em Portugal.

FACTO: A proporção de médicos especialistas em Portugal é 20 pontos percentuais abaixo da média e a terceira mais baixa da EU26. 

Registe-se que no SNS em Portugal só 30% dos médicos chamados de família ("General practitioners") trabalham nos centros de saúde ("primary care"), os restantes exercem em hospitais públicos. Provavelmente isso explicará pelo menos uma parte dos 1,7 milhão de utentes sem médico de família.

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Fonte: Health at a Glance: Europe 2024, OECD, Nov 2024

04/07/2025

Dúvidas (353) - Alguém pode explicar?

Alguém pode explicar a razão do julgamento do Caso Marquês que envolve o Eng. Sócrates, preso em 11 de Setembro de 2001 por suspeita de umas dezenas de crimes cometidos durante o exercício de um cargo público, se arrastou desde então até ontem, em contraste a com a acção proposta pelos "Anjos", um grupo musical pimba que reclama à humorista Joana Marques, que ironizou com a execução pelo grupo do hino nacional, uma indemnização de um milhão de euros por danos causados à sua reputação com consequências que alegadamente reduziram o seu cachet nos espectáculos seguintes?